Ela sentou-se, radiante,
à melhor mesa do lugar. Fez questão de não escolher a mesa da espera, ou a mesa
do mosaico de sombras. Não. Hoje seria diferente. A mesa que escolhera era
iluminada, próximo à vitrine que dava pra a rua, de onde era possível ver o
vento brincando com as árvores.
Tudo parecia mais
colorido para ela. Até mesmo o concreto que encapava a cidade, o brilho rude dos
veículos e a fumaça negra que expeliam... Nada atrapalharia o seu momento de
dar novo significado ao seu mundo.
Estava lindamente
vestida, maquiada, perfumada. Logo ela, que nunca usava perfume... Ah, mas hoje
seria diferente. Queria estar tão agradável aos sentidos dele como a mais bela
e cheirosa das rosas. Queria ser colhida. Queria ser a escolhida...
Olhou o relógio. Havia
chegado alguns minutos antes do horário, tamanha sua ansiedade. Mas hoje ela
sabia que não esperaria. Talvez ele também chegasse antes...
Mirava para fora distraída,
e os primeiros minutos passaram como pausas musicais. Sua respiração
determinava o compasso do tempo...
Mas as pausas musicais
se transformaram em um longo silêncio. O ar, antes abundante e cheio de vida,
tornou-se rarefeito e entrava em seus pulmões com dificuldade. Dentro dela algo
explodia, e ela sabia que era ruim.
Mais alguns minutos, e
ela teve a sensação que seu corpo não reagiria. Não por não querer ir embora...
Mas pela falta de energia, de disposição. Tudo parecia menos colorido, e o
concreto, os veículos e a fumaça mancharam sua paisagem.
Estava cabisbaixa quando
sentiu o toque em seu ombro. Ele veio! Ele finalmente veio!... Por alguns
milésimos de segundo não teve coragem de olhar para trás. Seu coração não cabia
mais em seu peito. Virou-se, de um só golpe, para a figura às suas costas.
O homem estendeu-lhe a
mão com um arranjo de rosas. Eram vermelhas, como o sangue que corria como rios
caudalosos em suas veias... Mas havia uma rosa amarela bem no meio do
ramalhete. Estranhou, não entendeu claramente por quê. Foi então que mirou o
rosto da mão que lhe entregava o presente.
- Com licença, senhorita.
Alguém pediu que lhe entregasse isso.
Ela tirou das mãos do
garçom as suas rosas. Não era aquele olhar, aquela voz, aquelas mãos, nem
aquela frase que queria. Era ele quem ela queria... Ele não veio...
“Nunca fazer-te esperar
porque te achei.”
Ela repetia para si em
pensamento a última estrofe do poema. Nunca fazer-te esperar... Mas ela
continuava esperando! Lindamente vestida, maquiada, perfumada e com um
ramalhete de rosas na mão. Com um mundo manchado pela ausência de cor. Seus
pensamentos eram negros...
Tentou manter a calma.
Apesar de sentir-se como uma adolescente, já não era uma. Era uma mulher
madura. Uma mulher de trinta anos. Alguém que sabia o que queria. Confiou em si
mesma. Levantou a cabeça... E inadvertidamente reparou no bilhete dentro do
ramalhete.
Leu. Releu. Uma lágrima rolou de seu olho
esquerdo, marcando com uma mancha redonda o papel. Beijou os escritos feitos a
próprio punho. Pegou um guardanapo e limpou os olhos. Olhos enxutos...
Guardanapos são realmente úteis em dias de silêncio... E espera.
Pegou mais um guardanapo
e escreveu:
“Por favor, venha logo.
Acabe com essa minha espera...
Eu te amo.”
Eu te amo.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário