Essa semana me peguei
pensando sobre o porquê de os relacionamentos de hoje serem aparentemente mais
curtos do que os de antigamente. Conversei com algumas pessoas, colhi alguns
relatos para formar uma opinião mais firme a respeito. Foi um trabalho de uma
escritora de coletar informações, sem ao menos que me desse conta disso
enquanto o fazia. Foi uma experiência, no mínimo, interessante.
Cheguei à conclusão que,
ao contrário do que algumas pessoas mais velhas – saudosas de sua época –
dizem, não estamos na “Era da separação”, ou mesmo que estejamos perdendo a
noção do que é um relacionamento. A verdade é que o ser humano nunca teve essa
noção...
Antigamente, os
casamentos eram baseados em status social, segurança material, perpetuação da
família e transferência de bens. É óbvio que não excluo o amor desse contexto.
Muitos dos casais se amavam, felizmente. Não vivi antes dos anos 80 (quando a
liberação sexual já estava mais do que consolidada), mas não é preciso pensar
muito para deduzir que a maioria dos casamentos não era assim tão baseada em
amor. A segurança, principalmente, falava mais alto. Com o tempo, o comodismo
camuflava-se nessa segurança. E as pessoas ficavam cada vez mais infelizes...
Como disse um amigo meu,
hoje as pessoas estão revendo sua noção do que é relacionamento. Ou, pelo
menos, tentando criar uma. A segurança material, principalmente para as
mulheres, não é mais algo procurado nos relacionamentos. Nem mesmo status
social. Assim, as pessoas estão tendo que lidar com outros aspectos da
convivência diária. Já não há desculpas para ficar ou para não ficar dentro de
uma relação. Mas, é bem verdade que estamos sambando e perdendo o rebolado para
lidar com o feio, o imperfeito, o absurdo de um relacionamento. E ainda
transferimos... Não bens, mas conteúdos nossos para o outro, como se o outro
tivesse que nos completar, nos satisfazer, nos aceitar, nos entender...
Talvez não estejamos na “Era
da separação”, mas na “Era do consumismo." Somos compelidos, desde
pequenos, a pensar em nós mesmos. A pensar em vencer na vida, conseguir um bom
emprego para poder consumir coisas... E pessoas. Ao contrário do que pensamos,
não somos mais bem-resolvidos com a ideia do “casar-se e separar”. Não somos
uma geração de pessoas que sabem lidar com a perda, com o desapego. Pelo
contrário. Somos uma geração de pessoas que aprendeu a lidar com o mundo como
se ele tivesse que nos servir, como se as pessoas tivessem que nos servir. E,
se não servirem, existem milhões de outras, prontas para consumo.
Essa semana a natureza
também me presenteou com uma afonia, além dos “belíssimos” pensamentos. Vi-me,
instantaneamente, mergulhada no silêncio. Nos meus pensamentos. Nos meus
sentimentos. Percebi que também somos compelidos a “consumir” as palavras, sem
prestar atenção ao que falamos, ao que ouvimos, ao que pensamos, ao que
vivemos. Ficamos no automático, ligados a um GPS. Como se, assim, fôssemos
saber qual caminho trilhar...
E, para os que ficaram
se perguntando a respeito... Eu ainda acredito no amor. Ah, e como acredito!...
Exemplo disso são as “historinhas” escritas abaixo. Tenho dois finais
reservados, mas gostaria de ouvir a opinião dos leitores. Afinal de contas, sou
uma escritora democrática, e adoro criar seres pensantes... E sensíveis.
ELA:
ResponderExcluirCinco minutos e vou embora. Cinco não, dez. Mas, por favor, venha logo, me faça sorrir, me abrace... Cansei de esperar, de sentir. Não quero voltar pra casa e fazer tudo de novo: pensar, escrever, desejar.
(…)
Hoje eu queria que fosse a última vez: sem mais espera. Que o nosso encontro acontecesse e que fosse tão surpreendente e impetuoso quanto a chuva. Que fosse definitivo. Ele me pediu calma. Ele não veio.
ELE:
Ah, não, pensou. Desculpa, Raquel, hoje não dá. Converso contigo depois. Você terá muitas razões pra me odiar, mas hoje não. Ligou o carro e partiu.
O LEITOR:
Uma quarta-feira qualquer em outubro. Insônia, tempo para gastar na internet e encontrar, não sei como, um escrito sobre a espera e sobre o amor, substantivos que se gostam e se fazem companhia.
(…)
Li algo sobre choro, sofrimento e rejeição. Soube que alguém esperou com ansiedade. Da autora só conheço seu olhar de menina. Mas hoje eu quis ter suas mãos entre as minhas. E se a espera finalmente apresentasse suas razões, as teria para sempre.
(…)
Desliguei o micro. Abri um vinho e fui ouvir minha canção de amor preferida. Enquanto espero.
http://www.youtube.com/watch?v=UYU-8L06rfI
A AUTORA:
ExcluirEncantada com a resolução da história feita por um Autor (Leitor) desconhecido ou, pelo menos, incógnita. Satisfeita que a abertura para a participação tenha inclusive mudado sua forma de ver a história que ela mesma escrevera. Pensa: Deixarei os finais previstos como estão em minha mente, esperando para serem escritos. Com a esperança (A espera com sentido positivo... Mas ainda uma espera...) de que o Autor (Leitor) retorne para propor, quem sabe, (mais) um final alternativo.
ELA:
ResponderExcluirEsperei. Ouvi a chuva varrer a cidade. Pela primeira vez, tive vergonha de estar sozinha. Pedi um café, fingi interesse num livro, folheei o cardápio. Brinquei com guardanapos e coisas que adoçam. Quis chorar, mas resisti.
Bebi um café estranho, doce no início, amargo no final. Talvez culpa do adoçante. Aprendi que guardanapos são úteis em dias de silêncio. Resolvi ir embora.
Aos poucos, as ruas voltaram ao que são: luzes vermelhas de um lado, amarelas de outro. Pessoas que correm, pessoas que se abrigam, pessoas que esperam. Algumas cantam ao volante, outras se apertam e se molham. Semáforos piscam, hoje eu não exergo bem... É melhor chegar em casa.
Me atirei na cama. Sufoquei a dor no travesseiro, até que o sono, que tardou, me fez descansar. No dia seguinte, depois de um e-mail, não soube mais o que pensar... Tive raiva, mas sorri.
ELE:
Raquel,
Eu não me perdoo. Nem desculpas tenho coragem de pedir. Só te escrevo porque, apesar de tudo o que fiz, e por mais envergonhado que eu esteja, preciso de ti. Peço que aceite a minha aventura poética como quem recebe uma flor sem beleza, mas colhida com carinho.
Um beijo,
do Frederico.
POEMA PARA A MOÇA QUE ESPERA
Enquanto me aguardavas
inquieta
eu dava voltas.
Eu que te procuro há trinta anos
estive em toda a parte
e não te vi.
Muitos cheiros, várias bocas
e a vontade de amar
insaciada.
Mas no frio de uma chuva repentina
e pensando que em vão me esperavas
percebi
não quero muito:
teu abraço morno
teus cabelos molhados
teus olhos enxutos.
Como criança
descobrir a cada dia uma novidade:
um sinal que não notei
tua íris colorida de cinema
um fio novo que desponta em tua nuca.
Deixar-te na escola
buscar-te no trabalho
aguar-te.
Nunca fazer-te esperar
porque te achei.
P.S.: Quero te ver hoje. Está livre no almoço?
O ARREMEDO DE AUTOR:
Agora sei mais: às vezes ela conjuga o verbo encantar-se. Aposto que é feliz e quando chora é porque prefere mágica a equilibrismo. Não sei pra onde olha, nem por onde anda, razão pela qual concluo que um esbarrão é possível. Será o tempo de sorrir, pedir desculpas, apanhar livros, papéis e projetos derrubados. Tempo de dizer que sempre tropeçamos e estragamos tudo à nossa volta. Tempo de catar a poesia que, tenho certeza, entorna no chão.
A AUTORA:
ExcluirFeliz é um adjetivo que busco em cada sensação, em cada experiência que tenho. Sou feliz por tudo que tenho, mas choro pelo que não tenho, pelo que já tive, pelo que talvez não tenha. Mas, choro pouco ultimamente. A sensação de ser "lida" por alguém é fascinante. A espera transformou-se em curiosidade. O silêncio, em não sentir-se mais só.
O esbarrão é possível... Mas será um reconhecimento. Recolher do chão poemas conhecidos. Uma frase, para quebrar o gelo:
"Eu já te li em algum lugar?"
A resposta seria quase uma redundância. E a surpresa seria (re)conhecer olhos já conhecidos...
A AUTORA:
ResponderExcluirHavia um prazo para o silêncio. Dois dias. Mas o silêncio foi estendido para além. A curiosidade transformou-se em ansiedade, e ela pensou: "Não gosto de histórias sem um fim. Prefiro histórias sem fim. Histórias que falam de vários começos e recomeços. Do amor resistindo a provas. Quero que eles se encontrem e estejam juntos. Gostaria de poder também escrever como será o 'esbarrão'. Essa história precisa ter um fim. Um fim e um (re)começo."
Sentou-se à frente do computador e (re)começou, mais uma vez, a rescrever o já escrito... Ainda pensando: Onde estará o meu (arremedo de) autor?
Apareça sempre, Frederico...
Parece que tudo começou com uma afonia. Uma semana depois, uma gripe forte me obrigou a estar na cama, longe do seu mundinho particular.
ResponderExcluirQuis levantar, escrever algo, continuar a alegria de estar em seus escritos... Dizer que li, que gostei e que não sei, o que já deve estar claro, se quem escreve é o autor ou o personagem. Quis só mostrar que estava aqui. Tentei, mas não consegui. É uma gripe forte.
A vontade de escrever, mesmo doente, me fez notar: nunca vi tanto por uma fresta... São só palavras, meio olhar, um quase sorriso... E quero continuar a lê-la. Quero estar mais perto...
Garanto que os olhos são novos, garanto que nunca me leu. Descobri que mora em Brasília, o que torna o esbarrão tão possível quanto necessário. Penso em você.
Um beijo,
Frederico Lemos.
A AUTORA:
ExcluirSeparados por algumas horas de distância, autores e personagens quase se encontram ao vivo em escritos dedilhados sobre o teclado. Ela não teve insônia, apenas um princípio de noite difícil...
"Talvez", pensou ela, "Agora os escritos serão mesmo a próprio punho...". Ela tinha essa esperança (aquela mesma espera com sentido positivo, como havia dito antes)... Talvez a diferença da espera para a esperança seja apenas a rima desta com confiança, oculta em significado dentro da palavra.
Ela viu-se entusiasmada, fazendo mais e mais rimas, ainda que concretas e aparentemente desconexas: curiosidade, ansiedade, novidade, felicidade... Talvez culpa do imperativo de sair do virtual. E não seria um encontro casual, ela queria narrar as pistas para o - não mais só possível, mas breve - encontro. Com uma imagem criada na mente agora com nome e sobrenome, teriam que compartilhar os papéis: Ela, em silêncio, escreveria as coordenadas o mais rápido que lhe fosse possível; Ela, em espera, saberia que ele viria. Ele, em espera, seria o coadjuvante na determinação dos acontecimentos; Ele, em silêncio, saberia o que fazer.
E, juntos, veriam o sol surgir detrás das nuvens.
Logo, logo escrevo novamente...
Um Beijo,
Raquel Capucci.