Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ELE


“Eu pedi a ela para esperar. Não sei se está esperando... ‘Calma’, foi o que eu disse. Mas será que ela entendeu que, o que eu realmente queria, era um tempo para pensar? Um tempo para sentir de novo a vida com o coração leve, com os olhos secos, com a alma calma? Calma... Eu já nem sei o que é essa palavra. E agora estou aqui, rodando de carro pela cidade como se não soubesse o endereço do local do nosso encontro. Claro que sei, mas minha mente se recusa a lembrar! Preciso de mais tempo...

(...)

Já passei por esta rua?... Sinto como se estivesse rodando em círculos. Com este carro, na minha vida... E ainda não estou calmo. Melhor desligar o rádio, aproveitar o silêncio... Daqui a pouco o silêncio será apenas uma lembrança. Ambos falando, ambos ouvindo, mas não dizendo nem escutando nada...

(...)

Talvez hoje eu faça diferente. Talvez fale o que estou sentindo, diga que a amo, que a quero para sempre... Quantas vezes será que eu disse isso?... Será que alguma vez eu disse... Para mim mesmo? Eu direi, e então fecharemos os olhos e nos beijaremos. E não precisaremos dizer mais nada. De novo o silêncio... Esse amigo que me sobra quando nada mais resta...

(...)

Não quero o silêncio de ser solitário. Quero o silêncio de escutar sussurros, de ouvir a respiração ofegante, de sentir o coração batendo... O silêncio de perceber detalhes. O silêncio de vê-la crescer como a mulher que vejo, de fazê-la saber através de gestos... Por que tantas palavras? Por que tantos pensamentos?...

(...)

As mulheres dizem que pensamos demais e não agimos. Mas somente não agimos do jeito que elas querem. E, quando pensamos em agir, ouvimos algo como: ‘você vai fazer isso mesmo?’, ou ‘quando é que você vai fazer isso?’... Cobranças. Os homens não lidam bem com cobranças sobre sentimentos. Se alguém se adianta em fazer algo, e por vezes faz até melhor, porque nos preocuparíamos em fazer? Elas dizem que não fazemos nada, mas a verdade é que não sobra nada por fazer.

(...)

A verdade é que, por mais que sejamos racionais, sentimos tudo. Sofremos como elas. Talvez até mais. Nossos pensamentos são cheios de emoção. Se é verdade que homens e mulheres têm dentro de si características do sexo oposto, no sofrimento as mulheres racionalizam e os homens sentimentalizam. Os homens calam e as mulheres falam, pois o sentimento é vivido no silêncio e a mente manifesta-se no ruído.

(...)

O semáforo abriu. O silêncio me fez recobrar a razão. Já sei onde estou... Por que não liguei o GPS?... O local é logo ali. Ainda tenho um tempo, pelo meu relógio... Será que ela está lá me esperando?...

(...)

Não é possível, acho que meu relógio está com a bateria fraca. O ponteiro está andando tão devagar... Ainda não liguei o GPS... Estou atrasado!... Será que vou até lá? Talvez ela já tenha ido embora... Ainda me pergunto se é o que quero. Dessa vez pode ser decisivo. Pode ser a última vez que eu aproveite esse silêncio benigno... Espero que ela esteja me esperando, e que nós possamos resolver as coisas. O impasse massacra o silêncio, impede a voz de sair... Vou sair do carro.

(...)

Ainda está chovendo. O vidro está embaçado, mas posso ver. Lá está ela. Será ela?... Está se levantando. É ela! Preciso me apressar e entrar logo por aquela porta. Chega de adiar, meu caro. A hora é agora... Maldito relógio!

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