“Ele me pediu para
esperar... E estou esperando. Esperar foi o que eu fiz a vida inteira. Esperar
para nascer, esperar para crescer, esperar pelo amor que sempre quis... E esperar
que a chuva amansasse para poder sair do carro e atravessar a rua, até chegar
ao local combinado. O tempo passa tão devagar quando estou esperando por ele!
Mas o tempo de ficar sozinha sem a perspectiva de sua vinda é muito, muito mais
longo...
(...)
O ruim é não saber ao
certo quando esta espera chegará ao fim... Quando poderemos finalmente ficar
juntos. Por quanto tempo já estou sentada aqui esperando?... Veja aquela
senhora sentada sozinha na mesa ao lado. Será que ela também esperou, como eu?
Será que ainda espera?
(...)
A espera, apesar de
necessária, me amedronta. Como se eu não fosse me livrar dela, ou como se ela fosse
me assombrar quando eu não tiver mais nada a fazer...
(...)
As pessoas passam por
mim, provavelmente se perguntando o que faço aqui sentada esse tempo todo. Ninguém
vem mais à minha mesa me perguntar o que eu quero. Talvez porque esteja
estampado na minha cara o que eu realmente quero... Eu quero que essa espera
acabe!... Afinal, onde ele está?!
(...)
Ele me pediu também para
ter calma. Mas... Como ter calma quando o sentimento lateja por dentro?! Quando
a vontade de jogar-se de peito aberto é maior do que o medo da rejeição que
queima minhas entranhas?! Já fui rejeitada algumas vezes. Já chorei por ser
abandonada. Chorei até por não querer mais chorar... Mas o choro de não saber
ao certo qual será a resolução desse impasse é muito, muito mais sofrido. O
choro de pensar que talvez ele não sinta o que eu sinto... Pode ser que ele não
saiba o que fazer com o sentimento...
(...)
Eu ainda tenho medo da
rejeição. Será que ficar sozinha não seria melhor do que ficar nessa angústia
de esperar? Essa angústia de ter que abrir mão daquilo que é mais importante,
abrir mão do que acredito e tenho como princípio para ficar com outra pessoa?
Será que vale mesmo a pena?
(...)
A espera me enche de
dúvidas. E ficar sentada sozinha, sem ter com quem falar me faz pensar. E eu
não gosto de pensar demais! Quando estou com alguma coisa pendente, alguma
coisa me incomodando, procuro alguém para conversar. Ora, e não é o mais
provável? E o mais certo?! Falar a respeito resolve as coisas. E eu queria que
ele estivesse aqui para podermos conversar! Ele sempre fica com aquela cara de que não
está entendendo, de que não está a fim de falar nada e, no fim, eu fico falando
sozinha. Como estou aqui hoje, falando sozinha em pensamento comigo mesma.
(...)
Os homens dizem que as
mulheres querem sempre controlar tudo, que agimos como donas da razão e que
somos obcecadas por aquilo que nos permita prever o futuro. Realmente, nós
mulheres queremos saber o que acontecerá, e nos colocamos sempre à frente em
qualquer ação... E também na reação, obviamente, porque geralmente os homens
não reagem! Pelo menos, não parecem reagir. Isso, ou o tempo deles passa num
compasso mais lento que o nosso... Talvez o tempo dele seja tão mais lento, que
agora o seu relógio marca a hora do nosso encontro...
(...)
A verdade é que não
somos controladoras. Somos ansiosas. E por isso acabamos, algumas vezes,
enfiando os pés pelas mãos. Agindo sem pensar. Falando o que não deveríamos... Algumas,
que já passaram por uma relação conturbada antes (talvez a maioria de nós), agem
de forma reativa para proteger-se, para não sofrer o mesmo de novo. E acabam
sendo injustas. E acabam morrendo pela boca, perdendo-se pela própria língua,
ficando, por fim, sem língua, sem boca, sem beijos, sem olhares... Apenas um
aperto de mão frio e uma velha amiga... A espera...
(...)
Aquela senhora ainda
está aqui, ao lado, sozinha. Vou chamá-la para conversar. Claro! Assim
pararíamos de pensar e dividiríamos nossos problemas, enquanto esperamos.
Não... Veja, ela está se levantando. Será que cansou de esperar? Ou será que
tem alguém esperando por ela lá fora?...
(...)
Sabe do que mais? Vou me
levantar e ir embora também. Afinal, do que vale essa espera enorme se não há
mais nada para dizer? Se ele vai chegar e não vai falar nada? Se eu vou ficar
pensando sozinha, mesmo com ele sentado na minha frente? Se eu vou sempre fazer
esse monólogo interno virar externo na frente dele?... Meu corpo não me
responde, quer esperar mais. Não quero ir embora. Ele pediu para esperar, e me
pediu calma. E estou esperando. E estou calma... Quero ter calma, fazer
diferente... Ou porei tudo a perder...”
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