Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


sábado, 20 de outubro de 2012

ELA (2)


“Sorri. Li aquele poema mais de um milhão de vezes.”

Já não se lembrava mais da noite desperdiçada pelo choro no travesseiro. Não se lembrava mais da espera, da vela e das sombras sobre a madeira fria... Da despedida... Do pedido por tempo. Somente dos faróis de um carro estacionado em sua direção e um beijo sob a chuva.

“Não. Talvez eu esteja inebriada de amor e tenha perdido a razão. Terei imaginado tudo? Mas meu corpo ainda lateja com a presença dele, com o seu toque suave sobre a minha pele, o entusiasmo da força do seu abraço...
Ele me disse para esperar, mas me disse que só a espera não basta. Talvez ele queira a entrega. Será que entregar o meu tempo em espera não é o suficiente? Estive e estou totalmente entregue, quero estar com ele entre meus braços, entre meus lençóis e meus escritos. Quero levá-lo ao máximo da emoção, fazê-lo crescer, ser sua companheira e amiga... Por que ele não vem logo? Não quero que desista...

(...)

Tenho medo. Medo de ficar sem ele... Não me importa seu silêncio, nossas diferenças. Se a divindade escreve mesmo certo por linhas tortas, como dizem, talvez tenha entortado nossos caminhos para que pudéssemos nos encontrar. Afinal, andar sempre em frente não tem graça alguma... E não se pode ir muito longe...

(...)

Como é difícil entregar-se! Um misto de excitação e temor. Talvez ele também sinta isso... Mas seu poema foi a primeira entrega. Uma primeira grande entrega. A quebra do seu silêncio. Ele quer me ver. Quer me ver! Hoje, na hora do almoço. Ele me perguntou se estou livre...
Livre, meu amor, somente esperando que você me encontre!

(...)

Sinto um pouco de raiva, mas que não chega nem mesmo a manchar de cinza o colorido dos meus sentimentos por ele. Sinto-me como uma adolescente de novo! Riscando corações por toda parte. Riscando meu coração com seu nome. Entornando poemas. Dando asas a sonhos. Talvez eu realmente esteja perdendo a razão...

(...)

Ele disse que também esperou por mim, que procurou por mim. Trinta anos... Mas algo transcende a busca e a espera. Algo que não se mistura mais à paixão, ainda que ela seja a tinta usada para pincelar sentimentos. Já transcendemos a paixão. Queremos descobrir detalhes antes não vistos, com os olhos de criança que percebem tudo. Que sabem tudo. Para crescermos juntos...”

Digitou algumas letras sobre a tela.

“Me encontre no mesmo lugar, às 13 horas.
Te espero...

Um beijo,
Raquel”

Desligou o computador. Nada mais tinha de raiva. Sorria como uma criança...

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