Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Gayatri Mantra - Deva Premal & Miten

Despertou lentamente, ao toque suave da brisa de um novo dia. A luz entrava em um espectro de cores pela janela, como nunca antes tinha visto. Sua visão estava diferente. Todo o recinto cheirava a lavanda, seu perfume preferido.

Decidiu afastar os lençóis com suavidade, porém firmemente. Não tinha desejos de ficar, nem de partir. Mas algo chamava para fora. Algo no ar lhe soprava desígnios de um futuro que se abria. De um lugar fora do espaço, de alguma data fora do tempo...

Levantou-se. Pisou o chão. Já não parecia haver limites. Não sentia dor como antes. Nem frio. Nem fome. Em algum momento a prisão se abrira como num suspiro... talvez o último. A última prisão...

Ainda que seus pensamentos não conhecessem limitações naquele momento, algo ainda seguia sua ordem. Cada estrela, cada cometa, cada partícula ainda pulsava dentro de si. Como se fizesse parte de tudo... como se pudesse ver sem realmente ver, ouvir sem realmente ouvir.

Caminhou para fora do quarto. Seus passos pareciam tão leves, como plumas seguindo ao sabor da brisa travessa que cismava em remexer com as folhas no jardim. Era ela a mensageira da vontade de sair, seguir... pairar. Por sobre o chão... e sobre o passado.

Já não era a mesma hora... 53 minutos. A última frase que se lembrava de ter ouvido. Ou o que ouviria em seguida... Mas já não importava saber ao certo. Ainda pairava sobre o chão de madeira, ainda seguia ao sabor da brisa sem saber onde daria...

Do lado de fora, no jardim, alguém parecia esperá-la há muito tempo... 53 minutos não seriam suficientes. Queria fazer perguntas, rever todos os olhares, abraçar novamente cada um dos que vira, beijar cada um dos que tocara, ouvir cada um dos que também seguiram.

- Ainda tenho tempo?

A figura não respondeu. Apenas olhava o horizonte e sorria levemente. Parecia hipnotizada com o baile de folhas que remexiam ao sabor da brisa. Não percebia nenhuma outra presença. Sentia, mas não ouvia.

- Será que vamos nos ver de novo?...

A pergunta, agora, ecoou como a fala nas montanhas. Talvez sua voz fosse afônica para a audição do mundo comum. Virou-se na direção que tinha que seguir para finalmente partir e não olhar para trás.

Mas a figura se mexeu. Olhou em volta... não em seus olhos. Chorava, mas sorria.

- Foram apenas 53 minutos... mas não vou me esquecer de nada. – disse, sorrindo.

Sem pensar duas vezes, pairou sobre a grama verde. Seguiu ao sabor da brisa... e não olhou mais para trás.

Sabia que não esqueceria.

Deu seu último suspiro e partiu, deixando para trás sua última prisão...

Para ser livre pela eternidade.




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