Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


sexta-feira, 4 de março de 2011

As Plantas e as Virtudes


As plantas podem nos ensinar muitas virtudes. E eu tenho muitas delas. Plantas, não virtudes... Entretanto posso dizer que estou aprendendo com elas a ser uma pessoa cada vez melhor. Aprender a ser uma pessoa melhor com uma planta? Você me perguntaria. É isso mesmo. Ninguém melhor do que uma planta para nos ensinar a ser pessoas melhores. E, aprendendo com elas, posso explicar por quê.
Uma planta pode nos ensinar a ser pacientes, por exemplo. Quem já cuidou de uma delas sabe o que estou falando. Passamos dias, meses e até anos esperando para ver uma manifestação, um brotar de flores, um despontar de frutos. Eu já ouvi alguém falar – um apaixonado por plantas, decerto – que esperou até por algum movimento, algo que demonstrasse que ela agradecia pela água de todos os dias, pelo sol de todas as manhãs, pelas conversas descompromissadas. Mas aí está outra virtude que as plantas nos ensinam: a humildade. Não é possível ser orgulhoso diante de uma planta, por mais que nos orgulhemos de todo nosso trabalho. Porque, aos nossos olhos, sempre parecerá haver mais e mais trabalho, ainda que haja uma flor. Logo essa flor não estará mais lá, e nos lembraremos de nosso novo trabalho até uma nova flor.
Nós aprendemos também a não deixar para depois com uma planta. Como? Faça essa experiência: deixe de dar água um dia ou outro, dizendo “acho que não tem problema se eu deixar para amanhã”. O problema é que nós, humanos, temos a tendência de achar que o momento nos acompanha onde quer que formos. E deixamos sempre para amanhã. Ah, não há mal nenhum em deixar para amanhã, você pode pensar. Isso é verdade se há algum motivo plausível para se adiar algo. Mas, se a planta está lá, seca, a água à mão, e você deixa de molhá-la, pois amanhã o fará, logo não haverá mais planta para molhar. E você terá água sem utilidade.
As plantas nos ensinam a apreciar as pequenas coisas. Lógico, pressupondo que você já aprendeu a ter paciência. Pois não é possível se encantar com pequenas coisas se não sabemos esperar por elas. Um novo galhinho, um botãozinho de flor despontando de uma folha acanhada, até mesmo a forma como uma planta se curva diante da necessidade certa de uma formiga. E não pense você que é por falta de ação. Não existem criaturas mais simbióticas do que as plantas. Elas sabem das suas necessidades e das necessidades dos outros seres que a cercam.
E já temos uma nova lição a aprender. Nós, seres humanos, aprendemos desde muito cedo a reclamar nossos desejos e paixões. Choramos por leite, brigamos por uma poltrona melhor dentro do cinema, competimos por um posto melhor em nosso trabalho. Não, não há nada errado com a ambição saudável. Afinal de contas, nós somos seres humanos por nossa capacidade de adaptar o ambiente às nossas necessidades. Mas aí se encontra um pequeno-grande problema: levando essa nossa característica ao extremo, estamos pouco a pouco destruindo a nossa fonte primária de energia, aquela que nos fez tornar seres humanos! Seria como uma planta, ao encontrar um leito subterrâneo, sugar-lhe toda a água até que não haja mais nada. Não parece incrível?
 Nós, seres humanos, somos incríveis em diversos aspectos. Sensíveis, inteligentes, engenhosos, ambiciosos, práticos, amáveis. Mas não achamos nosso equilíbrio sobre nossas raízes. Vamos girando, atrás do sol que nos pertence, mas esquecemos de agradecer por ele não desviar seus raios para outro lado. A natureza nunca virou as costas para nós... E agora nós, sua mais perfeita criação – nossa mais perfeita criação – viramos não só as costas, mas todas as nossas armas contra ela. Não parece justo, não é?
Temos de aprender, além de olharmos para quem está do nosso lado, também essa nova experiência: estarmos entregues ao que poderá ser novo e inesperado, cônscios de nós mesmos e dos outros. Não pensarmos em como era bom quando aqui havia água, e continuar esticando nossas raízes na direção errada. Nossa adaptação, infelizmente, também levou à teimosia. Por vezes deixamos de nos questionar se essa é ainda a melhor forma de agir, ainda que essa forma nos tenha trazido até aqui. Não deixarmos nunca de nos questionar tem apenas um nome: evolução. Não há evolução sem questionamento. E não há questionamento se não nos empenharmos em conhecer a nós mesmos e aos seres que nos cercam.
Nesse ponto, caro leitor, temos de admitir que, no que diz respeito ao autoconhecimento, as plantas são mais evoluídas do que nós. Você pode até perguntar para ela como se faz tudo que falei até aqui. Mas não espere resposta imediata: seja paciente, e observe. Tenha humildade suficiente para saber absorver as pequenas coisas que ela vai lhe mostrar. E, mais do que nunca, não deixe para molhá-la somente amanhã. Acredite, sua recompensa será maior do que qualquer uma que um dia você esperava... Vocês vão florescer juntos.


Brasília, 13 de setembro de 2006.






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