Talvez eu jamais saiba o que é realmente... O que realmente é sentir aquilo que, aos poucos, vou sentindo...
Saber seria como triunfar sobre pilares de desapegos, de desaforos, de desaconchegos, de destroços, de desencantos... Pois, mesmo que ainda eu não sinta, mesmo que ainda eu não veja em mim esses sentimentos... Quais alentos eu posso contrariar? Por que estaria eu corroendo-me por dentro, ainda que nada sinta? Sentir talvez seja um crime...
Seja em si um desapego...
Seja realmente um desaforo...
Seja definitivamente um desaconchego...
Seja em mim um desencanto, sob destroços que sequer consigo ver!
Talvez ainda me apareça como algo que eu não consiga explicar. Talvez...
Como se meu corpo fosse só dúvidas, minha alma só questionamentos, meu espírito... Ah, meu espírito! Desse sim posso dizer que, apesar de sobrevoar sobre possibilidades, tem suas asas podadas! E, quando lhe deixam as asas crescerem, voa não muito longe, e é descoberto clamando apenas por um nome...
Nomes! Por que nomes?! Por que palavras?! Por que sensações?! Eu queria mesmo poder não sentir nada... Nem um toque, nem uma dúvida... Pois eu mesma sei que tudo o que sinto na verdade é uma parte de mim mesma clamando por algo cujo nome eu desconheço!
Desconsolo... Talvez esse seja um nome... Um nome que eu possa clamar! Uma página virada... Uma sensação esquisita... Outra vez essa sensação! Eu me sinto traída por mim mesma, eu me sinto traindo a mim mesma, eu me sinto traindo o mundo inteiro! Como se eu tivesse que expurgar de dentro do meu peito essa vontade de me libertar de todas as amarras!... Essas amarras são minhas, eu quero atar-me àquilo que é certo, àquilo que amo... Às amarras do amor, que já não voam... Mas que, bem de perto, já sabem por que nome chamar...
Chamar... Chamas... Labaredas que nunca se apagam! É assim que eu me sinto... Como um vulcão prestes a explodir... Como uma esperança a eclodir de dentro de sua casca... Como uma serpente a rastejar pelos campos da razão...
Que razão?! Será que há verdadeiramente uma razão para isso tudo? Ou, ao contrário, vou ter de rastejar até conseguir me levantar novamente?! Eu quero explodir, eclodir, me propagar pelos quatro cantos do seu mundo! Do meu mundo, daquele mundo distante que nos cerca... Que nos cerca, com sua cerca de arame... Que nos cerceia, com seus limites espinhosos... Que nos semeia, ainda que sejamos ervas daninhas... Que nos alimenta, ainda que não tenhamos fome... Que nos acaricia e pune com a mesma potência!
Eu não quero fugir desse mundo... Eu quero fazer parte dele... Eu quero poder estar na realidade e na fantasia ao mesmo tempo... Quero poder ser real frente às pessoas, sem ter que me fantasiar de algo que eu não sou... Sem vestir esse figurino que não me cabe mais... E poder estar por entre verdades e mentiras que eu mesma interpreto! Naquele local que chamam mágico, que só se transforma quando nele sobem os portadores arquetípicos do ser humano!
Eu quero ser a portadora dessa chama do ser, desnudar-me, vestir-me, viver uma realidade que não é minha... E, ao mesmo tempo, ter acesso à realidade e à fantasia que me pertence... Sem que, para isso, necessite perder-me por entre vestimentas que não são minhas... Por entre falas que não saem de minha boca... Por entre entradas e saídas que não fazem parte da marcação de minha vida...
Quero, acima de tudo, poder querer... Ou simplesmente poder. Ou simplesmente querer. Ou estar acima de tudo... Abaixo de nada, antes de tudo, depois de nada, ainda que para isso eu tenha que dizer, pela última vez: Minha sina é seguir, com meus passos, passos que não são meus... Com amor e confiança...
Brasília, 26 de novembro de 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário