Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


quinta-feira, 3 de março de 2011

Amores Perecíveis


Muito já se falou em fim do mundo: a profecia maia - assim interpretada por algumas mentes mais pessimistas - traz em si a mensagem de que temos pouco mais de um ano para rever nossas atitudes e gerar uma atmosfera de fraternidade e compreensão mútua. Quem somos nós para contestar? Quer seja o fim do mundo (caracterizado pelo número mais temeroso da atualidade, o 2012), quer seja profundas mudanças que envolvem apenas a “morte psicológica” e não a física, o fato é que todos nós temos vivenciado pequenos períodos de “fim do mundo”, ou do mundo tal qual o conhecemos.
Permitam-me falar de minha própria experiência. Há dois anos venho vivenciando o que posso chamar de “fim do mundo particular”. Foi quando virei mãe - a “morte psicológica” da mulher independente, livre e solta a correr pelos campos verdes da vida sem compromissos, que gera, em seu interior, o nascimento da mulher madura, responsável por uma vida que não é a sua – casei, separei, voltei a ser a mulher solta, mas agora solta num mundo desconhecido, no verde castigado pelo fogo, enquanto sentia a chuva vagarosamente trazendo de volta a vida aos campos áridos do sentimento. Posso dizer que ainda ando por esses campos reflorestando meus pensamentos e plantando novas sementes de emoção, pois a mudança nunca é fácil. Nunca passamos por ela ilesos.
Aqueles que acreditam serem “imunes” às mudanças, ou que tem a noção ilusória de controle absoluto (acreditem, eu já fui assim), apenas passam pelas mudanças tropeçando e criando uma pseudoadaptação, uma transformação irreal de um estado cômodo na crença no controle total para um de total ignorância. Daí é que surgem o sofrimento, a depressão, a mania, a ansiedade, e tantos outros problemas psicológicos dos quais temos notícia hoje. Os que resistem à mudança ou têm medo dela, desmantelam-se em seus “fins de mundo particulares”, e ignoram a ideia de que, na verdade, o mundo não acabou... mas apenas aquele mundo de ilusões no qual viviam antes.
As mudanças sempre foram, injustamente, encaradas como vilãs. No entanto, aludindo à célebre frase de Fernando Pessoa, eu diria: Mudar é preciso... Para assim podermos também viver. Porque (perdão, Fernando Pessoa!) viver também é preciso.
Mas voltemos ao fim do mundo, pois ainda o leitor não sabe o porquê do título deste texto. Quero chamar a atenção agora para um fato que, sob meu ponto de vista, atrela-se à noção tão temida de fim do mundo. O mundo pode sim estar acabando... E este fim começa pela perenidade dos sentimentos. Hoje em dia, acreditar que se está “amando” alguém é tão simples como dizer: “Acabei de ver um filme e amei!” Simples assim. Perdeu-se a noção do que é amor. Confunde-se amor com paixão e, quando o “amor” acaba, não sobra mais nada pra contar história. Nada mesmo. Pois as pessoas dizem que se “amam” antes mesmo de se conhecer.
As pessoas dizem que “amam” pela identificação com algo que veem no outro, e que não veem em si mesmos. Confunde-se essa identificação, gerada pela necessidade de ter em si uma característica encontrada no outro, juntamente à atração sexual, com o que seria amor.
Os antigos – antes do século XX – podiam dizer que amavam, no sentido de aproximar-se do outro sem poder de fato se aproximar. Não havia a possibilidade de realizar esse amor, que era, portanto, um amor idealizado, irreal (no sentido de fora da realidade). Nos tempos de hoje, o “amor” realiza-se primeiro de forma física, para só depois realizar-se no plano do pensamento. Os amantes, dessa forma, ao contrário dos antigos, não pensam a outra pessoa em sua essência, e entram em contato com a pessoa no plano físico de uma forma superficial. Porém, mesmo o “amor” de hoje aproxima-se do amor antigo pelo simples fato de ser idealizado, e posteriormente há o choque inevitável do ideal com o real.
Permitam-me insistir na comparação de hoje com o amor romântico de antigamente, sem que isso signifique que esteja endossando aquela atitude. Muito pelo contrário. Ambos ainda não se aproximam da real noção de amor. Mas, hoje em dia, ao contrário de antigamente, a realização superficial do amor, que não perpassa o campo do pensamento, torna-se totalmente perecível. Ao realizar-se o amor no pensamento, é possível que ele perdure um pouco mais, que haja mais vontade de insistir. No entanto, o amor superficial esbarra nas necessidades do ego, e a pessoa acaba dando preferência para si em detrimento da sua relação com o outro. O que é bem parecido com a noção que se tem hoje a respeito das coisas: móveis, eletrodomésticos, eletrônicos, carros... Tudo é feito para ser perecível. É aquela noção de consumismo mesmo: obtenha um amor agora, sabendo que haverá outro logo ali na esquina se esse não te aprouver. Ou seja, não há intimidade, porque não há a noção de que pode durar para a vida toda.
Mais uma vez, falando de minha experiência, sou a favor do perdurável, do duradouro... Mas não do estático e estanque. Para quem já viveu um amor perecível, como eu, posso dizer que, para que o amor não se desfaça ao primeiro vento mais forte que passe carregando tudo, é preciso que se saiba lidar com os pequenos “fins do mundo” dos amores possíveis. Saber trilhar um caminho juntos não é esperar apenas por noites estreladas e campos verdes... Mas saber agarrar-se ao amor mais profundo quando as mudanças, necessárias, e o “fim do mundo” parecem estar próximos...

2 comentários:

  1. Conseguiu me "transportar" daqui com o texto! Estou em plena praça de alimentação do ceub (imagina uma feira mega movimentada...dá no mesmo)e, ao ler, esqueci do barulho, das pessoas! Quero ler mais. hehe

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  2. Ah...eu tenho este blog. Não sabia em qual email eu tinha feito. hehe É uma espécie de diário meu pro kaique. Preciso atualizá-lo.

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