O céu límpido coberto de
estrelas é um prenúncio de que a seca estende seus braços áridos sobre
Brasília. A umidade aos poucos vai diminuindo, e lá está aquele céu de Galileu
sorrindo para nós, com Escorpião, Cruzeiro do Sul, Três Marias (para os
íntimos) e aquela estrelona que não é estrela ao lado da Lua Crescente se pondo
ao Oeste no fim de tarde.
Lindo espetáculo, não é
mesmo? Céu de Brasília, traço do arquiteto... E os traços do veneno daquela pastilha
do aparelho elétrico no ar, ligado na tomada em vão a noite toda. Eis uma parte do lado B
da seca, amigos e amigas: aquele zunido frenético e impertinente de uma espécie
tão, mas tão sem utilidade (minha opinião, não a dos sapos, lagartixas e
aranhas), que não dá pra entender ao certo de onde alguém tirou a ideia de criá-los.
O quarto de dormir mais
parece um aeroporto, e os mosquitos se proliferam à medida que as estrelas
começam a aparecer mais nítidas. Não há como não pensar, mesmo para pessoas
ecologicamente corretas como eu, que não seria nada mau que aquela espécie
chatinha entrasse em extinção, ou pelo menos diminuísse um pouquinho sua
população atual. Não sei por que, mas é possível que outras espécies também pensassem
isso a respeito da nossa, se pudessem:
- Povo mais esquisito!
Sem pelos no corpo e cheios de pelos na cabeça. Não tem garras, nem presas.
Comem o que der na telha (até uma coisa que eles próprios não sabem definir
direito o que é, a tal da “féstifudi”), dormem em tábuas duras cobertas com uma
espuma às vezes mais dura ainda... Usam umas coisas esquisitas, pontudas e
retorcidas para comer. Abrem a barriga de suas fêmeas por escolha própria para
seus filhotes nascerem... Sabem que vão morrer, talvez por isso não se importem
com a forma como nascem. E têm essa mania de querer limpar tudo o que chamam de
“casa”, mas enchem de lixo o lugar onde todos nós do planeta vivemos!
Um marco antropológico
interessante, de fato. Mas, não mudemos de assunto. Continuemos no que
falávamos sobre o lixo. Ou melhor, sobre estarmos gerando aquilo que recebemos.
Mais mosquitos? Menos predadores naturais, afastados das cidades pelo progresso
que tanto prezamos. Mais baratas e ratos? A resposta também é óbvia. Tememos os
vírus que destroem tudo o que pensam ser sua casa, mas não vemos que trilhamos
um mesmo caminho.
E a solução para os
mosquitos no quarto de dormir? Talvez dar um pouco mais de importância ao que é
importante, e proteger da suposta ameaça aquilo que é mais precioso. Talvez
lutar pela preservação dos sapos, lagartixas e aranhas. Talvez nos darmos conta
de que geramos tudo que recebemos. Mas não sei ao certo se conseguiremos tirar
conclusões acertadas sobre o que acontece ao nosso redor, enquanto ainda não
soubermos definir exatamente o que comemos. Questão de indefinição... Coisas de
Galileu e de Brasília.
Hei, Capucci, parabéns pelo blog e pelas ideias escritas.
ResponderExcluirVotos de muito sucesso!