Por que não deveriam ser
feitas? Perguntam-se, neste momento, as leitoras e leitores desavisados. Parem
de se perguntar, pois aqui não falaremos de respostas. O fato é, somente, que alguns
se perguntam sem saber ao certo se querem ouvir uma resposta, ou se realmente
estão preparados para ela, seja qual for. Exatamente por esse motivo, várias
perguntas desnecessárias são feitas todos os dias. Prolixidade lançada ao ar
sob a atmosfera de descuido. São perguntas demais, enviadas ao receptor sem a
observação devida, que por vezes pairam órfãs no limbo das perguntas sem
resposta. Portanto, parem já, ainda que isso gere ainda mais perguntas não respondidas
neste minuto.
Por que não observar
bastante e aprender a ouvir o inaudível, antes de lançar mais som sem
significado no espaço? Perguntas retóricas, por exemplo, são um monólogo que
deveria continuar interno. Quebra gelo? Não. Quebra silêncio, quebra
raciocínio, quebra até a cabeça da conversa e dos conversadores.
Quais são as perguntas
que não deveriam ser feitas? Eis uma pergunta difícil, mas pertinente. Ao ouvir
de uma pessoa que se separou recentemente depois de anos de casamento, qual a
primeira reação? – Nossa, mas por quê?! Eis uma pergunta que não deveria ser
feita. As pessoas geralmente sabem (ou deveriam saber) quais os motivos para
sair de um relacionamento, e na maioria das vezes são motivos que não deveriam
ser explicados ou exemplificados a qualquer pessoa, principalmente uma que não
se vê há muito tempo e que não é lá tão íntima assim. Não, não se deve fazer tal
pergunta. Número um em prioridade da etiqueta das perguntas que não deveriam
ser feitas. Lembrem-se sempre: As pessoas sabem os próprios motivos, e na
maioria das vezes não pretendem falar sobre eles com mais alguém. Mas, uma
ressalva: Ao ouvir a notícia, ao invés de perguntar, espere: se em trinta
segundos a pessoa iniciar um discurso extenso sobre isso, escute. Em seguida,
pergunte, sabendo que nesse caso a abertura foi dada. Assim, serão perguntas
pautadas em solidariedade e companheirismo, não numa curiosidade egocêntrica de
saber uma fofoca.
Mas não perguntar numa
situação como essa é algo meio óbvio, não? Não. Se fosse óbvio, não teríamos
tantas perguntas do tipo “Nossa, mas por quê?!” sendo ditas por aí.
É só isso? Na verdade,
não. Existem várias outras perguntas que não deveriam ser feitas. Perguntar a
alguém após saber da morte recente de uma pessoa querida, por exemplo. – Sério?
Lógico que é sério, do contrário essa pessoa lhe diria que alguém que ela amava
faleceu? – Mas o que foi que aconteceu? A não ser que essa pessoa confie muito
em você e não sinta vergonha em chorar na sua frente, não pergunte isso.
Responder sobre a morte de alguém é doloroso durante anos a fio, quanto mais
num acontecido recente. Mais uma vez: espere, ouça, pergunte. Se continuar o
silêncio: dê um abraço apertado e vá embora. Com certeza essa pessoa já
entendeu o recado depois disso.
Está ficando meio
repetitivo, você não acha? É, talvez. Entretanto, mais repetitiva é nossa mania
de perguntar o tempo todo. – Por que você ainda não conseguiu engravidar? Outra
pergunta indecorosa. Ou melhor, impiedosa. Se a pessoa está tentando ter um
filho (passando da morte para a vida) sem sucesso, concorda que se ela mesma já
soubesse os motivos de não engravidar a conversa seria totalmente outra? Ela
com certeza já teria tido sucesso ao tentar engravidar, e teria te contado
outra notícia. E sua pergunta, no caso, seria: Pra quando é? Essa é a pergunta
gostosa de responder para quem sempre quis ser mãe.
- Você me ama? Certo, chegamos
a um dilema. Um grande dilema, eu diria. Quando um silêncio prolongado pode ser
fatal. Nesse caso, espere por uma resposta sincera que será dita em poucos
milésimos de segundo, ou uma mentira que deixará qualquer um na ilusão da
felicidade por algum tempo. Algum tempo... Do contrário, se o silêncio se prolongar
por muito tempo, essa pessoa pode estar com problemas auditivos (pode
acontecer... Por que não?)... Mas se o silêncio for seguido da pergunta que
também não deveria ser feita: - Por que você está me perguntando isso? Talvez
seja melhor ficar em silêncio e ir embora. Mas, dessa vez, sem o abraço.