O que há na madrugada
que inspira os pensamentos?
Será a proximidade do sonho,
a distância da alvorada
ou os pontos luminosos do firmamento?
Antes da Lua Cheia estar a pino,
o vento sopra feito menino,
brinca com as folhas, pimpolhas,
atiça os cabelos e os desejos carnais
dos casais em alvoroço.
De madrugada é imponente e maduro,
forte combatente das árvores sonolentas,
preguiçosas em seu oxigênio,
gerando o gênio da própria insolência...
De madrugada o vento é barão,
sopra robusto e seguro
como que vindo com pretensões europeias,
falando-me das doces epopeias dos heróis...
O que há na madrugada
que me tira dos meus lençóis
e me atira nos braços do devaneio,
me traz por teus abraços o anseio
e me faz abrir a poesia?
Quando do raiar do dia,
com sua incessante correria,
os pensamentos me fogem
como lépidas borboletas,
dançando feito bailarinas espoletas,
e somem, e a inspiração consomem...
Mas ainda sei que ela,
a doce dama dos mortais,
a grande deusa dos portais,
retornará soberana sucedendo a noite,
Anciã, Mãe e Donzela,
livrando-me do corte do açoite,
que ao nascer do Sol dilacera os sonhos...
Na madrugada voo para onde quiser,
mudo de direção se me aprouver.
Busco a ti, chego a mim,
chegando sempre ao doce sim sem fim...
O que há na madrugada
que inspira os sentimentos?
Brasília, 09 de novembro de 2011. (3:38h – 3:59h)
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