Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


sábado, 12 de novembro de 2011

O Silêncio

Não costumo falar sobre religião, crença ou fé com frequência, muito menos usar exemplos de livros sagrados. Mas, hoje, peço permissão à minha escrita imparcial para fazer aqui uma citação de um livro que a grande maioria conhece e, se não conhece, já teve algum contato com ele: a Bíblia.
Em uma passagem da Bíblia se diz que “No princípio era o Verbo.” Sem entrar em discussões religiosas, permitam-me defender minha ideia. Entendo Verbo, nesse caso, como ação. No princípio era a ação. Entretanto, vislumbrando de longe o universo e presenciando descobertas sobre seu movimento, suas mudanças e as teorias sobre a sua criação e recriação, mesmo a pessoa leiga a respeito da ciência dos astros pode perceber que o universo é, principalmente, feito de pausas e de silêncio. Não só pelo fato de tudo nele ser vácuo e o som como o conhecemos precisar de um meio palpável como o ar para se propagar, mas também pelos grandes períodos de quietude em que tudo parece estático, principalmente para si mesmo. Ainda que não pare em seu movimentar eterno, são nas pausas e no silêncio que o universo faz sua transformação.
Em nosso mundo de hoje, onde somos obrigados a produzir e a superar nossos limites em milésimos de segundos, nossos sentidos são bombardeados por estímulos de todos os lados. Embora seja difícil evitá-los, podemos não tatear o que vemos, fechar os olhos para não enxergar, retirar-nos de um ambiente para não sentir um cheiro, deixar de provar o sabor de um alimento. Mas experimente, por um momento, não ouvir. Protetores auriculares existem, claro, posso ouvi-los dizer. Mesmo assim, as nossas células auditivas são sensíveis e as primeiras a entrar em funcionamento em nosso corpo em formação. É possível, ao deitar-se para dormir, ouvir relances de sons com os quais nos deparamos durante o dia, como se tivessem ficado impressos em nossos ouvidos. Ao pensarmos assim, podemos entender a necessidade do silêncio, de adentrar o Nada que nos transporta para o preenchimento.
São inúmeros os relatos de grandes descobertas que foram feitas em uma pausa, quando o corpo e o cérebro estavam em silêncio. Arquimedes que o diga. Costumamos fugir do vazio e do silêncio como se ele fosse improdutivo, desconfortável, ameaçador. O buraco negro é um desafio para os astrônomos, pois ele é aquele vazio e aquele silêncio que suga para si tudo que parece fértil e pleno. Se fôssemos a fundo em sua natureza, entenderíamos que ele é uma pausa do universo, algo que já havia sido grandioso e passa pela fase de nutrir-se, literalmente, para que algo possa ser transmutado, transcendido.
Uma música, mesmo a mais frenética, não existe sem as suas pausas. É um silêncio quase imperceptível, que mantém a harmonia do conjunto. O recurso de retirar ou colocar mais pausas numa música é usado para suscitar determinado sentimento no ouvinte. O corpo dá pausas entre um movimento e outro. Mas não pense você que o silêncio não proporciona nada além da pausa, do descanso às nossas células auditivas hiperativas, da nutrição para a mudança. Muito pelo contrário. É nele que reside o pulsar criativo, quando vamos buscar em algum lugar que desconhecemos dentro de nós, ou no universo, que de outra forma não poderia ser acessado, e que nos proporciona a resposta que procuramos. Fazer muito ruído em volta de um assunto, tema, trabalho, sentimento ou até uma pessoa, atrapalha o escutar da solução.
Deixe-me fazer uma pequena modificação no trecho citado no início deste texto: “No princípio era o Silêncio.” Antes do verbo, existiu o silêncio... Antes da ação, existiu a pausa. E um não existiu mais sem o outro. Ao invés de acharmos que o divino reside na palavra, na ação, no nome, no sentido, devemos lembrar que ele reside também no silêncio, na pausa, no descanso, na meditação. Buscar a si mesmo requer também calar-se e apreciar. Na contemplação reside a solução. No princípio, e também no fim, está o silêncio...

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