Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


domingo, 22 de julho de 2012

Cidades Inacessíveis


Cidade, cidadania, cidadão, todas são palavras com a mesma raiz etimológica, diz Aurélio. Mas concordemos que nem sempre felicidade está na raiz de se viver em aglomerados urbanos, mesmo que a sonoridade na rima pouco criativa ainda lhe caia bem.
Os seres humanos, desde sua evolução para seres altamente sociais, buscam o conjunto e a conjunção de forças e habilidades para segurança, proteção, aconchego. As cidades – e, em consequência, as grandes cidades – criaram-se dessa necessidade de união, sendo o Estado criado para garantir a qualidade mínima de vida de cada cidadão sob seu domínio.
Tudo muito lindo na teoria dos livros de História e para Aurélio, talvez. Mas, na prática da vida de cada pessoa que (sobre)vive nas cidades, não é bem assim. Cidades feitas para proteger, servir e aconchegar hoje oprimem. O que antes era pensado para permitir e facilitar o acesso de pessoas agora não passa de um aglomerado desenfreado de concreto vazio, de obras de arte arquitetônicas maravilhosas... Mas para quem mesmo?
Sou metade paulistana, metade brasiliense. Vivi numa São Paulo de paralelepípedos, pipas no céu, joelhos ralados e um bom punhado de carros. Já não havia muito verde nem planejamento urbano, mas era possível ir até um parque de bicicleta. Hoje em dia cada paulistano anda em seu carro na mesma velocidade do que nós em bicicletas: 14km/h - duas horas e meia todos os dias dentro de um carro, em média. E nem adianta reclamar do motorista da frente, o problema está na quantidade de veículos nas ruas (e cada um talvez com apenas o motorista dentro dele). Pouco ou nada é feito para mudar a situação. Talvez um túnel ou viaduto aqui e ali, onde ainda tiver terra ou céu para “enfeitar”. Paliativos eleitoreiros, nada mais. Soluções não vêm dos céus ou da terra, tão pouco das urnas.
Brasília, onde atualmente vivo e crio meu filho, segue rumo ao mesmo destino, com exceção de que, se tivermos um dia o mesmo tanto de gente do que São Paulo, estaremos vivendo “cada um no seu quadrado”, literalmente. Temos apenas duas grandes saídas da cidade, Norte e Sul. Pensando que todos (cada um no seu volante) vão e voltam no mesmo horário, e que o Plano Piloto absorve a maior massa de trabalhadores, em poucos anos teremos de morar dentro de nossos veículos.
Penso que Brasília, lindamente idealizada e construída por algumas personalidades “faraônicas” - megalomania é mera coincidência - teve em seu processo de criação um pensamento humanista e utópico como a nossa Constituição de 88. Maravilhosamente altruístas, belas, buscando o bem como princípio, a igualdade como fundamento, mas enfaixadas e imóveis feito uma múmia, igualmente inacessíveis. Lindas na teoria, mas carregando em si o medo da mudança pelo processo dispendioso para alterá-las, tanto Constituição quanto cidade. Brasília é tombada e leva tombos em sua função de servir e amparar pessoas. Nada pode mudar, e para mudar é preciso muito tempo, muito pensar, sendo montada feito um “Frankestein” arquitetônico. Semelhante à nossa amiga Constituição, uma verdadeira colcha de retalhos...
O que fazer para mudar a situação? Talvez olhar para a realidade ao invés de ficar olhando para um ideal, construir ouvidos nas paredes de concreto para escutar o que sua população deseja, sente, pensa. Quem sabe assim teremos cidades, efetivamente, com a mesma raiz de cidadão e cidadania, e onde possamos fincar as raízes de nossa feli(z)cidade. Aurélio que o diga...

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