A maioria dos leitores – e, por que não dizer todos os leitores – em algum momento da vida já ouviu, talvez de uma pessoa mais velha: “O Tempo cura tudo.” Acreditando nessa propriedade ora curativa, ora dizimadora do Tempo, vários artistas lhe dedicaram odes, como a bela música de Caetano Veloso sobre esse ancião respeitável e ameaçador, que carrega consigo a grande foice transformadora de fracassos ou sucessos, amores e desamores. Se o Tempo é um dos deuses mais lindos, é aquela figura mítica nem boa nem má, agindo de acordo com os próprios princípios. Dessa forma, seria melhor dizer não que o Tempo cura tudo, mas sim que mantém a roda da vida e do destino rodando em um ciclo eterno.
Todos os leitores – agora sim me aventuro a incluir todos – já passaram pela situação de dar “um tempo” no relacionamento, este tempo com letra minúscula e período indefinido. Mal sabem os amantes (ou “desamantes”) desavisados, mas o que estão dando não é “um tempo” e sim, “uma distância”. O tempo, de acordo com a sabedoria citada no início deste texto, cura, limpa, transforma. Não é ele que separa duas pessoas, para que cada uma possa pensar em seus propósitos e impressões. Quem pode realmente desfazer laços é ela, que não é vilã nem benfeitora por si só, mas que tem esse poder intrínseco de resolver impasses simplesmente impondo sua natureza: a Distância...
O tempo recria, reconstrói, refaz sonhos e esperanças... Quando bem utilizado, sim. E é possível duas pessoas fazerem uso de seus efeitos benéficos sem necessariamente estar separadas. É aquela pausa na turbulência, ficar no olho do furacão, a observação do voo longe, longe lá em cima, pensar consigo somente e com os próprios botões. E não é preciso da distância (física) para isso.
Bem sabemos alguns de nós (todos?) que é possível criar um abismo entre duas pessoas, e ainda morar na mesma casa. Pode-se passar o tempo que quiser com essa pessoa... Ainda assim, a distância não permitirá que o efeito curador do tempo recicle o que está obsoleto e recrie estruturas que não servem mais.
E, alguns de nós (aqui não cabe o “todos”) vivem a experiência de a distância precisar de navios, aviões, carros e alguma caminhada e, ainda assim, nosso algo querido e amado permanece ileso. Ou ainda, o tempo só contribui para que ele se fortaleça. A distância física, em si, não quer dizer muita coisa para os que ignoram sua incidência. O tempo é um aliado daqueles que estão perto, até mesmo sem se tocar. E a distância é a inimiga dos que se tocam, convivem, mas não chegam perto a um milímetro sequer.
O Tempo e a Distância são consortes, amantes, confidentes. Mas depende da forma como os encaramos para que seus efeitos permaneçam, revigorem, aumentem a energia benéfica que paira em nossas relações ou, ao contrário, dilacere e amargue tudo que antes fora doce. E, talvez o Amor, em todas as formas e sabores, seja a liga que prende Tempo e Distância unidos... Pelo infinito de espaço e tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário