Utilizando...

Utilidade:
s.f. Qualidade de útil.
Objeto útil; emprego, uso, serventia.
Útil: adj. Que tem uso, préstimo ou serventia; que satisfaz uma necessidade. Que traz vantagem, proveito ou benefício;

Todos os textos aqui postados me foram úteis em alguma fase da vida. E têm uma utilidade atemporal, perpétua. Longe de pedir por aprovação ou pretenderem marcar o leitor em algum momento, estes textos desejam e objetivam a utilidade. Não pedem reconhecimento ou aplausos, amor ou ódio; A utilidade é livre para o pretexto, o texto que quiser. Querem, porém, seu respeito. Podem não ser de todo belos, éticos, saudáveis, proféticos. Mas pedem que, se utilizados, tenham sua autoria reconhecida, como um preço justo e nada caro. Leia, releia, use, utilize. Mas dê a eles o sobrenome, pois todos tem mãe.
Assim, faça deles o uso (ou a utilidade) que quiser.

Raquel Capucci


sábado, 31 de março de 2012

Caçar para si mesma: o grito de liberdade da Leoa solteira

Após a queima de sutiãs em praça pública, a conquista da liberdade sexual, o usufruto da contracepção e a atuação em cargos importantes da política mundial, a mulher moderna enfrenta o seu mais recente desafio: assumir sua condição de mulher solteira.

Assumir publicamente não é problema para a maioria das mulheres que escolheram ficar solteiras. O desafio é, na verdade, fazer a sociedade acreditar (entenda-se família, amigos e amigas, antigos parceiros ou pretensos parceiros) de que elas estão solteiras e adorando, obrigada. Ainda é difícil para uma sociedade com resquícios (resquícios?) patriarcais aceitar que existem mulheres que são capazes de assumir suas convicções, seus trabalhos, seus filhos e sua vida sexual sem estar dentro de uma relação com outra pessoa, seja do sexo oposto ou não.

Imaginar um homem solteiro, curtindo a vida, cuidando do trabalho, indo atrás de uma mulher a cada fim de semana (quiçá a cada noite) não é difícil. Mas algumas pessoas, ao ouvir “estou solteira, feliz e não pretendo me relacionar com mais ninguém por enquanto”, escutam “estou solteira (suspiro) porque fui rejeitada e ninguém mais me quis, então estou tentando conviver com isso”. Se você ouvir a frase real de uma mulher que olhar para o chão ou talvez para casais de mãos dadas passando ao redor, tenha certeza que você está certo (a) em seu entendimento. Mas se, do contrário, essa mulher olhar profundamente em seus olhos e não titubear, saiba que você está diante de uma Leoa solteira.

A Leoa solteira é aquela que provavelmente já viveu grandes amores, amou muito e foi muito feliz em alguns relacionamentos. Mas, por algum motivo, ela se viu solteira e decidiu conscientemente que aquilo era o melhor para sua vida naquele momento. Talvez ela já tenha ficado triste por isso, já tenha aceitado qualquer homem ou mulher que lhe tenha aparecido na frente, mas o fato é que, em algum momento, percebeu que ela é a melhor companhia para si mesma. E que estar consigo mesma e plena dessa convicção não é um sacrifício, não é uma sensação de vazio, mas de conquista de espaço, de espaço interno e externo, de valorização de quem ela é perante tudo e todos.

A Leoa solteira não está sozinha, nem tão pouco é solitária. Pelo contrário. Talvez os homens e mulheres a procurem muito, até mais do que o normal. Talvez lhe façam propostas de relacionamentos depois de noites de prazer, ou até se apaixonem somente pelo que ela é sem mesmo tocá-la. O que provoca isso não é sua condição de solteira, mas a energia de plenitude e conforto que ela emana por estar bem dentro de sua própria pele.

Por que Leoa solteira? Porque ela aprendeu que pode caçar para si mesma, sem precisar levar parte de sua caça para um Leão/Leoa que esteja por perto. Não que ela não queira dividir o fruto de seus esforços, pelo contrário. Mas ela não quer uma relação servil, de ser obrigada a levar uma parcela do que conseguir para o outro. É bem provável que as mulheres felizes em seu casamento já tenham sido Leoas solteiras que encontraram alguém que esperasse elas mesmas tomarem a iniciativa de dividir a sua caça, e que aceitasse a progressão das parcelas que elas tinham capacidade de dividir em determinado momento. Não lhe cobrou mais do que ela podia ou queria dividir.

Não pretendo, aqui, fazer uma apologia à solteirice. Venho aqui defender a liberdade das Leoas solteiras de caçarem para si mesmas, e de acharem parceiros ou parcerias que esperem que elas estejam dispostas a dividir. Porque, no fundo, é exatamente isso que as Leoas solteiras querem: alguém com quem dividir, e não alguém a quem servir. Pois não há nada que afaste mais uma Leoa solteira do que a insistência para que elas dividam quando ainda não estão preparadas novamente para isso.

Se algum dia uma delas lhe disser: “Estou solteira, sim, e bem, obrigada”, não tente dissuadi-la de sua posição. Espere com paciência. Vibre com as conquistas dela. Ouça com carinho seus anseios, e vá conquistando aos poucos seu espaço. Mas sempre sabendo que encontrará uma fêmea inteira, e não uma metade esperando ser preenchida. Se você não é páreo para uma Leoa solteira, procure por uma gatinha escaldada. Depois só não diga que eu não avisei.


sexta-feira, 23 de março de 2012

O Tempo e a Distância


A maioria dos leitores – e, por que não dizer todos os leitores – em algum momento da vida já ouviu, talvez de uma pessoa mais velha: “O Tempo cura tudo.” Acreditando nessa propriedade ora curativa, ora dizimadora do Tempo, vários artistas lhe dedicaram odes, como a bela música de Caetano Veloso sobre esse ancião respeitável e ameaçador, que carrega consigo a grande foice transformadora de fracassos ou sucessos, amores e desamores. Se o Tempo é um dos deuses mais lindos, é aquela figura mítica nem boa nem má, agindo de acordo com os próprios princípios. Dessa forma, seria melhor dizer não que o Tempo cura tudo, mas sim que mantém a roda da vida e do destino rodando em um ciclo eterno.

Todos os leitores – agora sim me aventuro a incluir todos – já passaram pela situação de dar “um tempo” no relacionamento, este tempo com letra minúscula e período indefinido. Mal sabem os amantes (ou “desamantes”) desavisados, mas o que estão dando não é “um tempo” e sim, “uma distância”. O tempo, de acordo com a sabedoria citada no início deste texto, cura, limpa, transforma. Não é ele que separa duas pessoas, para que cada uma possa pensar em seus propósitos e impressões. Quem pode realmente desfazer laços é ela, que não é vilã nem benfeitora por si só, mas que tem esse poder intrínseco de resolver impasses simplesmente impondo sua natureza: a Distância...

O tempo recria, reconstrói, refaz sonhos e esperanças... Quando bem utilizado, sim. E é possível duas pessoas fazerem uso de seus efeitos benéficos sem necessariamente estar separadas. É aquela pausa na turbulência, ficar no olho do furacão, a observação do voo longe, longe lá em cima, pensar consigo somente e com os próprios botões. E não é preciso da distância (física) para isso.

Bem sabemos alguns de nós (todos?) que é possível criar um abismo entre duas pessoas, e ainda morar na mesma casa. Pode-se passar o tempo que quiser com essa pessoa... Ainda assim, a distância não permitirá que o efeito curador do tempo recicle o que está obsoleto e recrie estruturas que não servem mais.

E, alguns de nós (aqui não cabe o “todos”) vivem a experiência de a distância precisar de navios, aviões, carros e alguma caminhada e, ainda assim, nosso algo querido e amado permanece ileso. Ou ainda, o tempo só contribui para que ele se fortaleça. A distância física, em si, não quer dizer muita coisa para os que ignoram sua incidência. O tempo é um aliado daqueles que estão perto, até mesmo sem se tocar. E a distância é a inimiga dos que se tocam, convivem, mas não chegam perto a um milímetro sequer.

O Tempo e a Distância são consortes, amantes, confidentes. Mas depende da forma como os encaramos para que seus efeitos permaneçam, revigorem, aumentem a energia benéfica que paira em nossas relações ou, ao contrário, dilacere e amargue tudo que antes fora doce. E, talvez o Amor, em todas as formas e sabores, seja a liga que prende Tempo e Distância unidos... Pelo infinito de espaço e tempo.