Dia 07 de agosto, fez a passagem um dos mais queridos amigos que já tive: meu gato, O'Malley. Seu nome, inspirado por um desenho que adorava quando criança, foi dado por mim. Parece que quando damos um nome a algo ou alguém sua existência assume outra dimensão, passamos a sentir e perceber que sua simples presença é algo único, mesmo que existam tantos outros aparentemente iguais. No caso do O'Malley, dizê-lo único talvez seja pouco...
Neste mesmo dia, meu filho, durante o banho, parou suas atividades por um minuto, e passou a olhar fixamente para um ponto no infinito. Por um tempo, não tomei conhecimento do seu comportamento, inusitado para uma criança tão pequena. Em seguida, ele olhou para mim e disse baixinho uma frase ininteligível. Cheguei próximo a ele e pedi que repetisse a frase. “Pisei no rabo do O'Malley.” Estanquei por uns segundos, surpresa. Evitei comentar ou chorar a morte de meu amigo na frente dele, por supor que uma criança de tão pouca idade não entenderia. Logo em seguida, ele completou: “Tadinho do O'Malley. Desculpa, O'Malley!” Como se pedisse desculpas para o próprio. Repeti a frase como se fosse uma brincadeira, mas, por dentro, chorava.
Coincidentemente, semana passada resolvi ajudar meu filho a desenvolver o hábito de adormecer sozinho, e não em meu colo como de costume. Resolvi fazer isso de uma forma, digamos, mais educativa. Comecei a contar sempre a mesma estória, acrescentando uma parte a cada noite. Meu filho começou a se interessar e toda noite, ao se deitar, já me pede: “Mamãe, conta a estorinha?”. Imediatamente, eu me ponho a contar a estória. Mas havia um personagem que ainda não tinha conseguido definir, e ele mudava de forma diversas vezes na minha cabeça. Como representá-lo? Não era o personagem principal, obviamente, mas era aquele tipo de personagem essencial sem o qual a trajetória simplesmente não se completa. Sou apaixonada por esse tipo de personagem, ora misterioso para ser decifrado, ora meio louco apontando para direções contrárias, ou ainda o sábio que apenas deixa que aprendamos sozinhos. Era assim que o queria: misterioso, meio louco, sábio... Hoje, sem muito esforço, esse personagem se apresentou para mim, e a estória pôde ser contada... E o rio seguiu seu fluxo rumo a uma terra distante...
Eis aqui a estória, um pouco mais rebuscada:
“Era uma vez um menino. Seu nome? Bem, cada pessoa o chamava de uma forma diferente, de acordo como essa pessoa o via: ora era menino, ora era moleque (nome que ele nunca gostou!), às vezes ainda era aquele ali. Mas o nome que ele mais gostava, sem dúvida, era o nome que sua mãe tinha lhe dado: Nilo. Sua mãe dizia que ele, como um um grande rio cujas margens não se podiam enxergar, era vasto em pensamentos e atitudes. Mas mais vastos ainda eram seus sentimentos.
E ele, persistente e de vontade forte, cismava em dormir somente no colo de sua mãe. Um belo dia, mamãe (ela tinha seu nome, mas Nilo gostava de chamá-la assim) resolveu contar-lhe uma estória antes de dormir.
- Você quer ouvir? - disse mamãe.
- Quero sim! - respondeu Nilo, com os olhos brilhando de curiosidade.
- Pois então, deite-se em sua cama.
Prontamente, Nilo correu para os lençóis e de lá debaixo esperou que a mamãe começasse. E ela começou...
- Era uma vez...
'Era uma vez um principezinho, que morava num reino muito, muito distante. Lá, as árvores eram verdes e cheias de frutos, e os campos floridos e cheirosos durante boa parte do ano. Mas aquele principezinho, teimoso e um tanto carente, só queria dormir no colo de sua mãe, a bela rainha. Um dia, cansada de tantas noites em claro, a rainha fez um pedido para a primeira estrela que apareceu no céu:
- Querida estrela... Mande para mim a magia das fadas, para que meu principezinho consiga adormecer sozinho, e assim conhecer os encantos da terra onde sempre é verão!'
Conforme Nilo escutava, ele próprio virava o principezinho e sua mãe, a rainha. Puf! Lá estava ele na terra tão distante. Ele ouvia e vivia a estória ao mesmo tempo.
'Como a rainha fez aquele pedido com muita devoção, uma das estrelas desceu do céu, em forma de fada. Sim, uma fada! Uma linda fada de asas rosas e azuis, longos cabelos castanhos e orelhas pontudas, porém harmonicamente dispostas junto a um rosto belo e carinhoso. Seus olhos eram verdes como a grama e profundos como o mar. Ela então sorriu para a rainha, que quase chorava de emoção.
- Não chore, bela rainha. Seu pedido será atendido esta noite! Coloque o principezinho para dormir e eu farei o resto.
O sorriso daquela fada era tão sereno e passava tanta verdade, que a rainha não se conteve e perguntou o nome daquela tão doce criatura.
- Sheila. - respondeu a fada. - Mas pode me chamar pelo nome que quiser. Contanto que seja com respeito e amor, este nome terá poder e me trará até você.
A rainha agradeceu muito à pequenina fada, e foi correndo fazer o que foi combinado. Chegada a hora, ela colocou o principezinho em sua cama, sentou-se ao seu lado e esperou que o milagre acontecesse.
- Não, mamãe, quero dormir no seu colo! - disse o principezinho.
Ela o olhou com seus doces olhos de rainha, boa como era, mas manteve-se firme em sua convicção. Afinal, ela havia combinado com Sheila, a bela fada de asas rosas e azuis, que deveria chegar a qualquer momento!
Mais uma vez, o principezinho reclamou. Queria dormir no colo da rainha. E nada de Sheila, a fada, chegar. A rainha, então, começou a ficar desesperançosa, mas ainda aguardou mais um instante. E falou, bem baixinho, olhando para a janela:
- Sheila deve ser mesmo uma estrela...
Foi quando pôde ver, por entre as árvores, pequeninas asas que se mexiam. Era Sheila! O poder do nome a havia chamado! Sem que o principezinho percebesse, entrou em seu quarto e sacudiu as asas sobre a rainha, boquiaberta com a proeza daquele pequenino ser. Imediatamente, sem mesmo se dar conta, a rainha pôs-se a contar uma estória, que o principezinho acompanhou atentamente:
-Era uma vez...
Aos poucos, as palavras transportaram o principezinho para o lugar mais lindo que ele já havia visto em toda sua vida. O verde da grama era mais verde, o Sol brilhava com mais intensidade, o céu era mais azul, as águas faziam melodias que pareciam orquestradas, os animais saltavam e corriam em movimentos coreografados, até o canto dos pássaros soava diferente! Tudo era ainda mais bonito do que em sua terra, pois lá parte do ano a neve cobria os campos... O que não deixava de ter sua beleza e seu valor, mas era uma época em que o principezinho só pensava em se recolher no colo de sua mãe, a rainha... Mamãe!, pensou o principezinho. Será que ela estaria preocupada com seu desaparecimento? Onde estaria ela... Por um instante sentiu falta de seu aconchego... Mas só por um instante. Logo uma construção magnífica chamou sua atenção: era um enorme castelo que parecia feito de luz. Suas paredes eram transparentes e reluziam como as cores do arco-íris.
O principezinho chegou mais perto e, mesmo que o castelo parecesse estar a quilômetros de distância, em poucos passos estava em frente ao portão. Ali percebeu que algo estava estranho. As montanhas para além do castelo começavam a encher-se de neve e o céu aos poucos ficava cinzento. Será que me enganei, e aqui também tem inverno?, pensou mais uma vez o príncipe. Mesmo sabendo da existência das estações, ele estranhou a mudança repentina. Havia realmente algo errado naquela terra cheia de encantamento...
Mal estendeu a mão para tocar o belo sino que brilhava pomposamente ao lado do portão, que certamente anunciaria sua chegada, um pequenino duende apareceu timidamente por uma minúscula porta ao lado do sino. O principezinho, sem saber ao certo o que dizer, abriu a boca para falar.
- Entre, príncipe Nilo. - disse o duende com a voz firme, porém gentil. - A rainha das fadas está a aguardá-lo.
- Rainha das fadas? - falou Nilo, sem pensar. Mas não estava admirado por aquela terra ter uma rainha, talvez tão bela quanto sua própria mãe.
-Sim, Sua majestade, a rainha das fadas. - Ele fez uma pausa. - Você veio de uma terra distante para falar com a rainha, não é? Ela mesma me disse para ficar à sua espera, antes mesmo de o sino badalar.
O príncipe Nilo realmente não sabia o que dizer. Achou melhor não contestar as palavras do duende. Afinal, a rainha devia ser tão benigna quanto as outras criaturas daquela terra. Mas olhou ainda uma vez para as montanhas cheias de neve e as nuvens cinzentas... E teve um pouco de medo.
A rainha era realmente tão bela quanto sua mãe. Tinha lindos cabelos anelados, e a face rósea como pequenas pétalas de uma flor delicada. Mas trazia uma discreta tristeza em seu semblante, como se tivesse perdido algo ou alguém querido. Tristemente o principezinho pode notar que seus olhos brilhavam como pequenos cristais com a iminência do choro. Sem nem mesmo pensar em iniciar uma conversa para que se conhecessem melhor, Nilo falou:
- Com licença, Vossa Majestade...
- Chame-me de Tânia. - disse docemente a fada.
O principezinho sorriu.
- Tânia... Desculpe a intromissão, mas parece um tanto triste... Como pode uma bela rainha ser triste assim? Será por conta da neve nas montanhas e das nuvens cinzentas?
A rainha Tânia olhou para o príncipe Nilo com o olhar mais gentil que poderia esboçar. Porém com ainda mais tristeza.
- Minha tristeza de fato tem a ver com as mudanças na paisagem, querido príncipe Nilo. Mas são apenas consequências de uma mudança ainda maior... Uma perda irreparável para nossa terra. Minha filha Sheila, a princesa das fadas, desapareceu há poucos dias. Ninguém sabe onde ela possa estar. Você, como príncipe, deve saber o quanto uma princesa faz falta a um reino. E, assim como eu, imagino que haja também uma rainha sofrendo o seu desaparecimento...
O príncipe Nilo lembrou-se com tristeza de sua mãe, e deu-se conta que ele também havia desaparecido. Por um momento, teve medo de não conseguir voltar.
- Sábia rainha... Como posso ajudá-la a encontrar sua princesa? Eu também apareci em vossa terra sem saber como, e me lembro de que a última coisa que vi antes de aparecer aqui foi uma bela borboleta de asas rosas e azuis sobre a coroa de minha mãe...
A rainha Tânia pareceu tomar uma flecha no coração.
- Essa é minha querida Sheila! Então ela está em seu mundo? - Ela parecia muito preocupada.
- Por que fala como se fosse assim tão terrível?
- Tudo na natureza, na energia e no tempo precisa estar em um equilíbrio. Um equilíbrio que se adapta as mudanças... Por isso você está em nossa terra, e ela teve de ir para sua terra. A princesa Sheila só retornará se você estiver disposto a retornar.
O príncipe Nilo parou para pensar sobre as palavras da rainha. Mesmo em sua pouca idade, podia entender e sentir o que lhe tinha sido dito. Por um momento, hesitou. Queria passar mais tempo naquela terra na qual a grama era mais verde, o céu mais azul, os animais mais felizes e os rios faziam música! Mas sentiu saudades de sua mãe... E percebeu que um lugar só é realmente importante, quando nele estão as pessoas que amamos. Assim, conseguiu conectar-se ao coração da rainha e sentiu a sua tristeza. Talvez também o inverno tivesse chegado lá na sua terra...
- Está certo, rainha Tânia, eu vou ajudá-la a recuperar sua princesa. Se for preciso que para isso eu mesmo retorne, assim o farei. Mas... Infelizmente não sei o caminho.
- Não há caminhos que levam de volta. - disse a rainha. - O único ser que pode lhe dizer como fazê-lo é o sábio que vive atrás da cachoeira de cristais.
Como era interessante aquela terra!, pensou o príncipe Nilo. Uma cachoeira de cristais? Não deveria ser nada difícil...
- É só me dizer o caminho, que partirei agora mesmo. - disse ele.
- O caminho é tortuoso e muda com frequência. Mas se você seguir o pássaro preto, que procura pelo brilho do cristal, nunca irá se perder.
Pássaro preto, pássaro preto... O príncipe saiu repetindo para não esquecer. Bem na entrada do castelo, lá estava ele. Todo preto. Assim que o pássaro alçou voo, o príncipe Nilo o seguiu.
Em pouco tempo, estava à frente da cachoeira de cristais, onde inúmeros pássaros pretos repousavam da viagem. Aquela paisagem era ainda mais bonita que a floresta próxima ao castelo, mas o céu era ainda mais cinza, um contraste que não podia passar despercebido.
Príncipe Nilo se aproximou lentamente da cachoeira de águas fortes que soavam como um coral de vozes femininas. Passo a passo adentrou a caverna que havia abaixo dela, mas lá tudo era escuro. Não era possível ver nem sequer os próprios pés. Logo após o terceiro passo, príncipe Nilo ouviu um barulho que nunca havia ouvido na vida. Era como a mistura do gemido de um filhote e a melodia de um trovão. Pensou em recuar, desistir daquela difícil façanha, mas rapidamente se lembrou das duas rainhas tristes. Tinha de continuar! Para seu espanto, ouviu uma voz grossa, porém melosa, que disse:
- Não vai se desculpar, não, menino?!
- D-desculpe... - gaguejou o príncipe Nilo. - Não tinha visto que havia pisado no senhor...
- Está desculpado. Agora o que vem fazer aqui sem trazer sua luz?
- Está desculpado. Agora o que vem fazer aqui sem trazer sua luz?
- Luz? - retrucou o príncipe.
- Sim, menino Nilo. Sua luz interior! Ninguém pode adentrar terrenos desconhecidos sem trazer sua luz. Do contrário, como faria para iluminar os mistérios?
O príncipe Nilo espantou-se mais uma vez. Tinham acabado de se conhecer, e aquele estranho companheiro de caverna já sabia seu nome? Não se lembrava de ter se apresentado. De uma hora para outra, encheu-se de coragem e perguntou:
- Com licença, senhor, mas... Como sabe o meu nome?
- A questão não é a pergunta, menino Nilo, e sim a resposta. Foi ela que veio procurar aqui, não é mesmo?
Por um momento, o príncipe Nilo se irritou com a conversa. Quem era aquele ser misterioso que apenas falava em enigmas? E qual era seu nome?
- Você sabe qual é a pergunta certa para obter a resposta que deseja...
- Como devo chamá-lo, senhor?
O ser misterioso pareceu regozijar-se com aquela pergunta, como um cientista que finalmente consegue chegar a uma descoberta.
- Bravo, menino Nilo! Esta é a pergunta certa. Você deve me chamar por vários nomes, mas sou mais conhecido nesta terra como o sábio da cachoeira de cristais.
O príncipe Nilo ficou sem reação. Então desde o começo, sem saber, estava diante do grande sábio? Mas ele teve a sensação de ter pisado em algo macio e felpudo...
- O senhor é...
- Meu nome é O'Malley, o mais feliz dos felinos! Ou simplesmente... Um gato.
Um gato? O grande sábio era um gato? Na sua terra os animais não falavam! Como poderiam eles ser sábios ali?
- Não sou desta terra, menino Nilo – respondeu O'Malley como se ouvisse pensamentos. - Fiz a passagem, assim como você. Mas resolvi não retornar para lá, pelo menos não tão cedo... E fui me instalando aqui. A mudança daquela terra para esta, onde a magia é possível e onde cada ser entende que tudo faz parte de um delicado equilíbrio, fez com que eu também ganhasse propriedades mágicas e começasse a falar. Ou simplesmente me fazer ser entendido...
O gato O'Malley deitou-se pesadamente sobre o chão, e Nilo pôde ver nitidamente seu semblante. Seus olhos eram amarelos como duas grandes luas cheias nascendo no horizonte; sua pelagem branca e preta era felpuda, cheia e pomposa. Era um gato grande, muito maior que os gatos de sua terra, com enormes bigodes e orelhas apontadas para o céu. Naquele momento, Nilo entendeu que havia pisado em sua cauda.
- Mas só consegui tal mudança, pois trouxe comigo minha luz interior. Sua chama parece apagada. O que lhe aflige, menino Nilo?
- Não era pra eu estar aqui... Ou pelo menos não devo permanecer aqui como o senhor. Tânia, a rainha das fadas, me contou que sua filha, a princesa Sheila, desapareceu porque eu vim para esse mundo, e ela teve que ir para o meu mundo por conta do equilíbrio.
- Sim, menino Nilo, é assim que as coisas funcionam. Mas... A sua passagem não é definitiva. As pessoas podem ir e vir desta terra, sem necessariamente permanecer nela. Somente as pessoas que deixam aquele mundo permanecem aqui. Não é o seu caso... Você ainda tem muito o que fazer lá.
- Tem toda razão, senhor O'Malley. Assim como a rainha das fadas, minha mãe, também uma rainha, sofre por meu desaparecimento. Por isso tenho que voltar, e retomar novamente o equilíbrio. Assim, reinará a paz...
O'Malley lambeu a pata dianteira e com ela alisou os bigodes, pensando sobre o que Nilo havia dito. Depois falou, solenemente:
- A paz não é um estado eterno, menino Nilo. Ela é um equilíbrio dinâmico, no qual as necessidades que surgem são supridas conforme vão aparecendo. Não há como estagnar a paz, querendo mantê-la como um momento estático. Para que haja a paz, é preciso que as pessoas sejam livres para ir e vir, enfrentar mudanças e, assim, encontrar o próprio equilíbrio.
Nilo calou-se diante das palavras daquele gato, muito mais sábio do que qualquer ser humano que já havia conhecido. Entendeu que seu trânsito por aquela terra seria constante e, enquanto os dois universos continuassem existindo, sempre haveria seres e energias transitando entre eles. Por isso existe o inverno e existe o verão, e por isso as estações se sucedem umas às outras. Para que assim possa haver a vida, em seu equilíbrio dinâmico, como bem havia dito O'Malley.
- Como faço para fazer a passagem de volta, sábio O'Malley?
- Existe um ponto onde os mundos se cruzam. Mas apenas os felinos mágicos, como eu, conseguem levar e trazer os seres por ele. - o gato aproximou-se de Nilo. - Mas isso agora é um segredo nosso.
Nilo sorriu. E esperou que O'Malley continuasse.
- Seus pés não podem atravessar esse ponto de cruzamento, menino Nilo, apenas seu espírito. Suba em meu lombo e agarre-se ao meu pelo, e juntos faremos com que o equilíbrio retorne às duas terras, até que seja preciso buscá-lo novamente.
O príncipe Nilo fez exatamente conforme falou o gato O'Malley. Logo, estavam em frente a uma grande árvore, a maior que Nilo já havia visto, com enorme raízes e galhos. Em seu tronco havia um profundo oco, por onde não mais era possível ver luz nem ouvir sons.
- Agora deve retornar sozinho. - disse O'Malley. - Mas cada vez que quiser vir aqui, eu o estarei esperando neste mesmo ponto, onde o tempo não é tempo...
- Grato, sábio O'Malley. Estou ansioso para vê-lo novamente. Como faço...
O'Malley não o deixou terminar.
- Aqui só encontrará respostas, menino Nilo. Apenas basta que adormeça tranquilo em sua cama para que faça a passagem. E eu o estarei esperando, sempre.
O príncipe Nilo sorriu, despediu-se do novo amigo e entrou no oco da árvore. Tão logo o fez, estava em seu quarto, em sua cama e o dia havia amanhecido. Olhou pela janela, e pode ver as lindas asas de Sheila se distanciando, voltando para casa...
Levantou sorridente e correu ao quarto de sua mãe para lhe dar um grande abraço.
- Mamãe, estou de volta!'
- Mamãe, estou de volta!
Nilo correu para a cama de sua mãe para abraçá-la.
- Que bom, querido! Acredito que teve bons sonhos...
- Os melhores. - respondeu Nilo, com um grande sorriso.
A partir daquela noite, Nilo começou a recusar o colo da mamãe para dormir. Ele se deitava em sua cama, tranquilo, e esperava que sua mamãe começasse:
- Era uma vez...
Logo, podia ver os grandes bigodes de O'Malley ao sair do oco. E aquilo sucedeu por muitas e muitas outras noites... Até quando foi preciso buscar novamente o equilíbrio.
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