Meu sopro é
vão
Quando insufla
teus desejos incertos
E agita as poucas penas inertes
Nas promessas
de teu passaredo...
Meu sopro é
são
Quando ultrapassa
as lacunas de tuas paredes
E contorna em
curva aberta
O entorno falso
de teu enredo...
Meu sopro
cria espaços,
Escorre por
entre passos,
E discorre
em salvas quando és apenas súplica.
Meu sopro é
ar onde não podes voar...
É lança que
alimenta labaredas
De uma chama
que tua alma jamais irá queimar...
Do meu
sopro nascem estrelas,
Terra e horizonte...
Ilhas flutuantes
de pensamento
Nas quais o
teu tormento é ínfimo milagre
De mais de mil gestos alheios...
De mais de mil gestos alheios...
Meu sopro
não se julga em justo
Não se conta em cento,
Não se ouve
em som...
Não
perpassa teu sentimento
Como lâmina
afiada, por um fio.
Não se farta,
não se fere,
nem finda...
Mesmo que tentes
tocar-lhe em Sol...
E só.
Sabes que
não podes verter-lhe
Em versos
que são seus...
Pois meu
sopro não se curva
Ao que não
é chuva
Capaz de
virar tempestade...
Pois meu
sopro não se solta
Ao que não
é brisa
Capaz de
virar furacão...
Meu sopro
não se consome
Nem se
alinha
Nem se
perde...
Por pássaro
que não é asa,
Por rio que
não é água,
Por folha
que não é seiva,
Por rocha
que não é cume...
Pois saibas, de teu sabiá:
meu sopro
não cabe em gaiolas!
Não mente,
mas sente...
Não sabe,
mas sonha!
Meu sopro
não vai se prender
Em pulmão
parado em respiração suspensa
Por quem
não sabe ventilar...
Meu sopro
segue
E solta-se
no universo...
Ultrapassa
galáxias,
Hemácias,
Audácias...
E só
sossega em silêncio
Por quem é
capaz de escutar.